Entrevista com a publicada em
matéria de Murilo Gatti no Maringá Post dia 18 de junho/2020. https://maringapost.com.br/poder/2020/06/18/movimento-mais-mulheres-no-poder-em-maringa-vai-ter-reuniao-de-lancamento-nesta-sexta-feira
Como surgiu a ideia do Movimento Mais
Mulheres No Poder?
R: Professora Ana Lucia – Eu fui candidata a vice-prefeita em 2016 e a
reitora da Universidade Estadual de Maringá (UEM) em 2018. A partir das
experiências que vivi na pele quis compartilhar várias questões com as demais
pré-candidatas em forma de propostas e caminhos, que sei, podem ajudar em muito
no momento em que uma mulher se lança nesse mundo da disputa eleitoral.
Sabemos que a política em geral e a
partidária em específico é um campo predominantemente masculino, e quando nós
mulheres entramos nesse campo precisamos trabalhar e atuar quatro, cinco vezes
mais, rompendo barreiras e obstáculos muito maiores do que os homens para
disputar e conquistar uma vaga para o legislativo ou o executivo. Deste esforço
redobrado surgiu a ideia de um movimento suprapartidário que junte todas as
pré-candidatas a vereadora de Maringá, porque precisamos de suporte para
disputar em condições menos desiguais com os candidatos homens.
O Movimento tem formato de rede
colaborativa, a fim de compartilhar as experiências, encontrar informações,
entender e superar os dilemas que resultam da escolha que fizemos em disputar
uma vaga na Câmara de Vereadores. Ou seja, um espaço a nos ajudar e permitir o
aprendizado de umas com as outras, fazendo das eleições também um ambiente
educativo/pedagógico que contribua com a redução das desigualdades entre homens
e mulheres no campo da política.
E por que uma bancada feminina na
Câmara?
R: Professora Ana Lucia – Porque a realidade escancarada à nossa frente
nas eleições de 2016 foi reveladora. A Câmara de Maringá ficou sem a
representação feminina nesse mandato que iniciou com as eleições de 2016 e
termina agora no final do ano. O fato revelador é saber que a potência feminina
para ocupar esse espaço é muito grande – e estou dizendo ocupar com qualidade e
não apenas ter um “exemplar” feminino na Câmara. Isso não cabe mais. Não basta
às mulheres ocupar espaço servindo apenas como “afago” para a sociedade dormir
tranquila acreditando que a democracia representativa funciona. Não. É
necessário e possível conquistarmos uma bancada e, digo e reafirmo,
“conquistarmos”. Somos a maioria dos maringaenses. As mulheres compõem 52% da
população da cidade, além de responder por 54,3% dos eleitores. Os dados são de
agora, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O que estou propondo com o movimento
é abrir o debate com as pré-candidatas a vereadora para compreendermos o tamanho
do desafio e o que temos a conquistar nos próximos meses até as eleições. Em
2016 foram 87 candidatas a vereadora, representando 33% do total de candidatos.
Sabe quantos votos fizeram todas elas? 15%, índice igual ao total de votos dos
seis candidatos homens mais votados. Isso pode ser revertido e para tanto temos
que eleger uma bancada de mulheres.
Quais são as perspectivas apontadas
pelo Movimento?
R: Professora Ana Lucia – Que se firme o compromisso entre todas nós
pré-candidatas de que as eleitas formem uma bancada em defesa de duas propostas
que são o eixo do nosso Movimento: a defesa de que 50% dos cargos do primeiro e
segundo escalão da gestão municipal, secretarias, diretorias e gerências seja
ocupado por mulheres, cumprindo o artigo 5º da Constituição Federal. Isso tem
uma dimensão democratizante e seria um grande gesto, talvez o mais promissor
pela igualdade na ocupação do espaço público, mantido com dinheiro
público.
E, efetivamente, colocar o combate à
violência contra a mulher no orçamento municipal. Defendemos a alocação de 4%
de tudo o que se arrecada na cidade para este enfrentamento. A efetivação das
políticas municipais precisa de dinheiro. Não podemos ficar limitadas ao bom
senso ou à boa vontade do gestor, cabe a nós exigirmos.
Qual o impacto que você imagina para
a cidade com as mulheres ocupando 50% dos cargos na prefeitura, ou seja, metade
das secretarias, diretorias e gerências?
R: Professora Ana Lucia – Será fantástico. Assegurar a
representatividade igualitária em si já é muito importante. O impacto imediato
no olhar sobre a gestão, com mulheres ocupando de forma igualitária os espaços
institucionais de decisão na gestão pública será exemplar.
O cumprimento do artigo 5º da
Constituição também vai ampliar a visão das próprias mulheres que hoje estão na
gestão pública ocupando os espaços tradicionalmente “reservados” para nós,
possibilitando a atuação em todas as áreas, além de impactar de forma
significativa o futuro, abrindo os horizontes das mulheres mais jovens e das
meninas que crescerão em Maringá sabendo que a política é lugar delas também.
Tudo isso vai resultar em mais mulheres disputando e participando como
candidatas nas próximas eleições.
Como o Movimento vai funcionar e como
ele se constitui?
R: Professora Ana Lucia – Vai funcionar com três ações principais. A
primeira é criar uma rede de apoio às pré-candidatas, em especial para
ajudá-las nos encaminhamentos de denúncias de assédio, fake news,
ofensas, crimes contra a honra etc. nas redes sociais. A segunda, atuando na
visibilidade das pré-candidatas nas redes sociais do Movimento, promovendo
debates de propostas, publicando artigos e análises sobre o processo eleitoral,
divulgando o perfil de cada uma, suas propostas e notícias das atividades
desenvolvidas por elas. A terceira é uma ação dirigida a todo cidadão e eleitor
maringaense para denunciar possíveis candidaturas fictícias. Queremos que
Maringá dê exemplo tornando-se território livre de candidaturas fictícias, as
conhecidas candidaturas “laranjas”.
Quanto à constituição do Movimento,
basicamente é a agregação das pré-candidatas a vereadora, mulheres filiadas a
todos os partidos que vão concorrer às eleições de 2020 em torno do compromisso
com as duas propostas do Movimento. Somam-se a elas algumas articuladoras que voluntariamente
ajudarão a organizar as atividades e membros das comissões de apoio.
Fale um pouco mais sobre a terceira
ação do Movimento, tornar Maringá território livre de candidaturas fictícias ou
“candidaturas laranjas”.
R: Professora Ana Lucia – Essa é uma ação indutora. Imagino o
envolvimento de setores da sociedade na fiscalização do processo eleitoral,
afinal serão recursos públicos no financiamento das campanhas. Aqui também vale
pensar as eleições para além das disputas por cargos, mas como um processo de
aprofundamento e consolidação da democracia, que vive sob constante ameaça. Se
de um lado há candidatos e candidatas que vão para a disputa enquadrados por
uma legislação rigorosa, de outro há eleitores aos quais cabe o protagonismo, o
papel de barrar e impedir possíveis irregularidades que venham a acontecer.
Também cabe ao eleitor denunciar e isso é educativo.
Os partidos, os dirigentes
partidários sabem disso, mas o cidadão pode ajudar num aspecto específico da
lei eleitoral, o que trata da proporção de homens e mulheres na composição de
uma chapa de vereadores. Um dos sexos tem o limite máximo de 70% das vagas e o
mínimo de 30%. Que a realidade seja dita: às vezes colocam-se mulheres
candidatas nas chapas só para cumprir a proporcionalidade exigida pela lei, o
que não pode mais ser admitido pela sociedade e pelas mulheres. A lei é
rigorosa e uma denúncia bem embasada, com provas, pode impedir o registro da
chapa.
Uma palavra final sobre o Movimento
mais Mulheres No Poder.
R: Professora Ana Lucia – Nós mulheres pré-candidatas temos nesse
momento a oportunidade de fazer política com “P” maiúsculo. Se temos que falar
quatro ou cinco vezes mais para ser ouvidas no campo da política partidária e
na disputa eleitoral, falaremos unidas e de forma solidária. Compreendemos que
a vida de todos está mudando, imersos nas incertezas trazidas por uma pandemia,
exigindo de todos muita cooperação e ajuda mútua. Nosso movimento é um gesto,
um aceno nessa direção, e se o conhecimento e as ideias surgem elas precisam
ser compartilhadas. É o que faço, mostrando que as mulheres maringaenses podem
cumprir um papel importante e determinante nessas eleições.
Política com P maiúsculo, é disso que precisamos. Parabéns Ana Lúcia! E parabéns
ResponderExcluira todas as que estão participando deste movimento que fará história em Maringá!