terça-feira, 22 de setembro de 2020

Busca por bancada feminina tem número recorde de candidatas



Dos 416 nomes homologados pelos partidos políticos para a disputa das 15 cadeiras da Câmara de Maringá, 134 são mulheres. Em números absolutos, a participação feminina nas Eleições 2020 supera em 54% as 87 candidaturas de 2016 e em 32,7% o recorde anterior, de 2012, quando 101 mulheres concorreram ao Legislativo municipal.

 As mulheres constituem 32,22% do total de candidatos homologados para as eleições proporcionais deste ano. O percentual atende à exigência da proporcionalidade gênero de 30%/70% para a formação das chapas.

 Na eleição majoritária, por sua vez, Maringá terá duas candidatas a prefeita - Akemi Nishimori (PL) e Coronel Audilene (PP) - e cinco a vice: Cristiane Tazinafo (PTC), Lilian Moraes (DC), Eliane de Oliveira Silva (Patriota), Vanessa Paludetto Lollato (PSDB) e Luzinete Peder (Avante). Os nomes devem ser confirmados até sábado (26), data limite para o registro das candidaturas na Justiça Eleitoral.

 “Maringá ter registrado aumento no número de candidatas é um grande ganho, pois isso nos aproxima da democracia que queremos. Uma democracia em que o quantitativo de eleitoras, 52%, seja próximo do percentual de eleitas, que hoje na cidade é zero”, avalia Naiara Coelho, advogada voluntária do Movimento Mais Mulheres No Poder.

Os partidos que mais lançaram candidatas a vereadora foram PDT (9), MDB (9), PT (8) e Avante (8). Na razão masculino x feminino, proporcionalmente foram o PCdoB, o MDB, a Rede e o PDT os partidos que mais lançaram mulheres. Algumas siglas limitaram-se à obrigação do mínimo de 30% na proporção de gênero.

 Uma das integrantes do movimento “Mais Mulheres No Poder” e candidata a vereadora pelo PDT, Ana Lúcia Rodrigues comemora o recorde, mas diz que é preciso ver além dos números. Para ela, as candidaturas femininas avançaram em quantidade e em qualidade, com candidatas mais preparadas para o pleito.

 Na opinião da candidata, a força do movimento suprapartidário foi determinante para quebrar paradigmas e mostrar que política é, sim, lugar de mulher. Com grande destaque na mídia e apoio de dezenas de voluntárias, o movimento chegou a reunir 89 pré-candidatas de 16 partidos, todas com o mesmo propósito: eleger uma bancada feminina para a Câmara de Maringá.

 “Por meio do ‘Mais Mulheres No Poder’ houve preparação das pré-candidatas nunca antes vista na cidade, com formações, lives e mobilizações. Ninguém fica num jogo se não souber as regras e, nesse sentido, hoje as mulheres estão preparadas”, acrescenta.

 Celene Tonella, cientista social e professora de pós-graduação da Universidade Estadual de Maringá (UEM) assina embaixo do comentário da candidata. Segundo ela, a baixa presença de mulheres na disputa a cargos eletivos em pleitos anteriores devia-se à pouca oportunidade dentro dos próprios partidos políticos, que em geral as convidam para preencher vagas sem garantir as condições de verdadeiramente competir por uma vaga. “As vozes das mulheres, maioria na sociedade, e de outros grupos sociais como negros, indígenas, LGBT e outros, não têm espaço no parlamento”, diz ela.

 Na eleição de 2016, sem a mesma articulação feminina de agora, as 87 candidatas a vereadora somaram apenas 15,22% dos votos, o equivalente à soma dos seis homens mais bem votados. Apenas seis fizeram mais de mil votos – Carmen Inocente (3.600), Professora Vilma (1.886 votos), Cantora Marcia Mara (1.511), Iraides Baptistoni (1.432), Majô (1.051) e Márcia Socreppa (1.014). Nenhuma foi eleita.

 Para Ana Lúcia e outras integrantes do movimento, a preparação das mulheres para o pleito em curso será determinante para garantir o retorno da representatividade feminina na Câmara Municipal. O movimento não arrisca um número de candidatas a ser eleitas, mas trabalha com a certeza de que as mulheres sairão das urnas vitoriosas e com a meta de uma bancada feminina alcançada.

 

Luta permanente

Apesar da proporcionalidade mínima entre candidatos(as), não há proporcionalidade que assegura um mínimo de gênero entre os eleitos. “Essa participação na política institucional é uma luta permanente, que acumula vitórias e derrotas”, diz Celene, citando a minirreforma de 2009, que estabeleceu a proporcionalidade de gênero, instrumento que se mostrou incapaz de reverter os números na eleição do ano seguinte. Em 2010, o número de eleitas para a Câmara dos Deputados manteve-se em 8,8%, o mesmo percentual de 2006.

 Nem mesmo a eleição de primeira mulher para a presidência da República, Dilma Roussef, garantiu a presença de mais mulheres na política. Em 2016, 649 mulheres foram eleitas para as prefeituras dos 5.568 municípios brasileiros, apenas 11,7% do total, segundo a pesquisa Perfil das Prefeitas no Brasil, do Instituto Alziras.

 De acordo com a cientista social, no interior das siglas partidárias muitas candidatas até “naturalizam” sua presença para “ajudar a eleição” daqueles nomes considerados com mais chances – homens, na imensa maioria, provando que a boa legislação é insuficiente se a cultura machista enfronhada na sociedade e na política permanecer.

 Neste sentido, Celene considera o número de candidatas nas eleições em Maringá um dos êxitos do Movimento Mais Mulheres No Poder. “Essas mulheres se desafiaram e decidiram concorrer ao legislativo e executivo”, diz ela.


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