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Luciene Mochi[*] |
Existe um saber preliminar na
política que é essencial para compreendermos as disputas de poder nesse campo:
a diferença entre a “política e o político”. A pensadora Chantal Mouffe (2015),
explica que há uma distância entre o que caracteriza o ato político e “a
política”. Compreender essa diferença nos ajuda a pensar como o campo da
política é tão importante para o desenvolvimento da sociedade.
Ainda assim, há quem se
orgulha de dizer: “eu não gosto de política!”. Mas o que sabemos é que a
política acontece todos os dias e o tempo todo, independente da nossa
apreciação pelo tema. Acontece que, mesmo que não desejamos concorrer a cargos
públicos, o envolvimento com a política está no nosso dia a dia pois, a
política é um instrumento de ação capaz de transformar a sociedade. Estando
relacionada com os bens públicos, com a vida em sociedade, com as leis que garantem
nossa vida, a política está diretamente ligada com as medidas que afetam
diretamente a nós e as pessoas a nossa volta. De acordo com Mouffe (2015, p.
8), a política é “[...] o conjunto de práticas e instituições por meio das
quais uma ordem é criada”.
Feita essa ponderação inicial
sobre “a política” e “o político”, gostaria de fazer uma reflexão a respeito da
participação das mulheres na câmara de vereadores(as) do município de Maringá.
Atualmente, temos no legislativo 15 vereadores e nenhuma vereadora. Isso
implica dizer que existe no nosso município uma hegemonia política masculina, construída
pelos homens [políticos] em uma cidade com uma população estimada de 423.666
habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2019).
A falta de representatividade
de mulheres vereadoras no município reflete diretamente em pautas que são necessárias
não só para as vidas das mulheres, mas para as vidas de todas as pessoas. Essa
representação feminina no legislativo da cidade de Maringá é um problema de
todos nós e precisa ser construída pelas eleitoras e pelos eleitores, por todas
e todos que buscamos equidade no acesso às políticas públicas. A
sub-representação das mulheres na política afeta a democracia e se configura em
uma injustiça para além do voto. O direito a votar e a escolher representantes
não significa igualdade política se não for acompanhado por chances reais de se
eleger mulheres em porcentagens iguais aos homens. O voto é uma ação que
resulta na escolha de quem vai se mover para agir politicamente em decisões que
afetam a vida da população. Se as mulheres são excluídas do processo
democrático, pautas como violência doméstica, desigualdade no mercado de
trabalho, falta de creches, saúde e, consequentemente, qualidade de vida, podem
ser invisíveis ou, menos relevantes para os homens que ocupam os cargos
públicos. Isso acontece porque as necessidades dos homens e das mulheres são
diferentes e, exatamente por isso, a sub-representação das mulheres no poder
aprofunda essa desigualdade social.
Pensando em todas essas
questões, um grupo de mulheres da cidade de Maringá lançou o Movimento Mais
Mulheres No Poder. Essa iniciativa acolhe todas as pré-candidatas a
Vereadoras de Maringá, buscando trabalhar para mudar essa injusta desigualdade.
O movimento busca apoiar ações conjuntas para, na eleição municipal que se
aproxima, alcançar uma bancada de vereadoras compromissadas com as garantias da
vida e do bem-estar da população da nossa cidade, como por exemplo, condições
dignas de moradia, o direto à participação na cidade, o enfrentamento ao
racismo, ao feminicídio e a LGBTfobia.
Não existe democracia em uma
política construída sem a participação efetiva das mulheres. Precisamos
urgentemente perceber que um país, um estado e uma cidade que trata com
violência as mulheres, a população de rua, que continuamente opera as opressões
de raça e de gênero, ainda não é justa e não conhece a democracia plena. Por
isso é fundamental apoiar o Movimento Mais Mulheres no poder. Afinal, é
nossa responsabilidade participar ativamente da construção de uma cidade justa
e democrática para todas as pessoas.
Referências
MOUFFE,
Chantal. Sobre o político. [tradução Fernando Santos]. – São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2015.
IBGE.
Cidades e Estados do Brasil. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/maringa/panorama>.
[*] Luciene Mochi é pedagoga, professora da
Educação Básica, mestra em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de
Maringá (UEM) e doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF).
Luciene, sua reflexão sobre a questão é importante demais, assim como seu apoio ao Movimento Mais Mulheres No Poder. Vamos conquistar uma ampla Bancada Feminina na Câmara de Maringá!!!!
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